Vida familiar
Vicente Pinheiro foi nomeado Ministro Plenipotenciário de Portugal na Legação de Berlim, Dresden e Saxe Coburgo-Gotha, tomando posse a 12 de dezembro de 1893 e com termo de funções a 27 de outubro de 1910.
Durante os anos que esteve em Berlim, com a sua mulher Maria Amália, nasceram os filhos, João Afonso Simão Pinheiro Lobo Figueira Machado de Melo e Almada, em 24 de Novembro de 1894, e Grácia Maria Eulália Pinheiro de Melo, em 15 de maio de 1900.

Política diplomática Portugal-Alemanha
Desde 1888 que a Alemanha era governada pelo kaiser Guilherme II, o último imperador alemão e Rei da Prússia, que tinha pretensões de elevar o país a uma potência mundial com uma marinha de excelência, orientando a política externa de forma pouco diplomática, apelidada de Weltpolitik.
Em Portugal, durante o reinado de D. Carlos, enfrentou-se, por um lado, a força da Alemanha, fruto da unificação territorial e pelo desejo de mais territórios coloniais, e por outro lado, o conflito eminente com a Inglaterra, relativamente à posse de territórios em África, culminando com o Ultimato em 1890.
Portugal tentava manter relações diplomáticas equilibradas tanto com Inglaterra como com a Alemanha, mas enfrentava da parte do kaiser Guilherme II, situações políticas complexas, como a concessão de desembarque das suas tropas em Moçambique, que D. Carlos recusou, assim como o apoderamento dos territórios a sul do rio Rovuma, que levou Portugal a ter que assinar uma atualização da Conferência de Berlim, a 30 de agosto de 1894. Outra das situações, foi a questão da linha férrea de Lourenço Marques (Moçambique) que iria entroncar numa linha a ser construída pelo Transval (região da África do Sul, no nordeste do país) que os alemães queriam apoderar-se e envolver capitais financeiros, e por outro a pressão de Inglaterra para que Portugal não alienasse a linha férrea.
Neste período, o Ministro Plenipotenciário na Alemanha era Vicente Pinheiro que possuía instruções do governo português para uma firme defesa do interesse nacional e da implementação de políticas diplomáticas idênticas para Inglaterra e Alemanha, nomeadamente a cordialidade e lealdade nas relações com todas as nações, como recomendado no Despacho:
«Instruído como V. Exª fica de que se passa em assunto a que esse governo parece ligar tanta importância, fica V. Exª habilitado para quando a tal ponto se refiram aí em quaisquer conversas oficiais e oficiosas, se conformar inteiramente nas suas palavras com as declarações aqui feitas, procurando por todos os meios hábeis e decorosos desfazer desconfianças infundadas, e patentear o sincero desejo que nos anima de viver com o Governo Imperial as mais cordiais a amigáveis relações».
Fonte: Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros, A.H.M.N.E, Legação de Portugal em Berlim, Despachos Nº1, Lisboa, 21 de Setembro de 1894.
Visita de estado do rei D. Carlos a Berlim em 1895
Vicente Pinheiro preparou a visita de estado do rei D. Carlos à Alemanha, à corte do kaiser Guilherme II, em Potsdam e Berlim, em novembro de 1895. Previamente, a visita à corte alemã foi organizada, também em Lisboa, com a vinda de um delegado militar do kaiser. A viagem não foi exclusivamente política teve uma igualmente uma vertente turística, a comitiva atravessou Espanha, França (Paris), Alemanha e terminou em Inglaterra.
A situação portuguesa atravessava uma crise financeira e sofria as consequências do Ultimatum sobre o país. Assim, com esta viagem, o rei português pretendeu estabelecer laços diplomáticos e amigáveis com os seus congéneres europeus.
Vicente Pinheiro informou o Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Luís Maria Pinto de Soveral, sobre o estado da viagem do rei à Alemanha. Num ofício, datado de 10 de novembro de 1895, informou o Ministro dos Negócios Estrangeiros:
“Berlim, 10 de Novembro de 1895
Illmo e Exmo Snr Confirmando os meus telegramas e cartas particulares que tenho tido a honra de dirigir a V. Exª sobre a recente visita que Sua Magestade El Rei fez a esta Corte, cumpre-me repetir a V. Excia para que fique registado nos Archivos d’esta Legação, que Sua Magestade El Rei teve aqui nos dias 1 a 4 do corrente o mais respeitoso acolhimento. As festas que tiveram logar em honra d’ElRei e as altas distinções que foram conferidas a Sua Magestade mostram bem a sympattia com que o Imperador recebeu o seu Augusto Hospede; e o que da visita que sua Magestade El Rei fez ao Chanceller do Império me disse o mesmo chanceler, fazem-me crer que será proveitosa para o paiz a vinda d’El Rei à Allemanha. Deus Guarde a V. Excia
Visconde de Pindella”
Fonte: A.H.M.N.E, Legação de Portugal em Berlim, Cx. 11, Série A, 1985, Nº 103
Vicente Pinheiro nomeado Par do Reino em 1898
Em 1898, Vicente Pinheiro foi nomeado Par do Reino, lugar que ocupou na Câmara dos Pares, que tinha sido alterada pelo Acto Adicional de 1896, pelos Regeneradores durante a dissolução das Cortes. Foram feitos aditamentos em que se abolia os pares eletivos, passando a Câmara Alta a ser composta por 90 elementos vitalícios nomeados pelo rei, além dos pares por direito próprio e direito hereditário, entre outras alterações.
Ordem honorífica Grã-Cruz Ordem de Cristo
O rei D. Carlos demonstrou o agradecimento a VP pelos serviços prestados e pelo papel ativo na diplomacia, enquanto ministro plenipotenciário em Berlim, distinguindo-o com a Grã-Cruz Ordem de Cristo, informando-o através de carta datada de 12 maio de 1902. Esta uma ordem honorífica portuguesa é concedida por destacados serviços prestados no exercício das funções em cargos de soberania ou Administração Pública, e na magistratura e diplomacia, que mereçam ser especialmente distinguidos.
Visita do kaiser Guilherme II a Portugal em 1905
A organização de todas as negociações, logística e protocolo desta viagem foi realizada por Vicente Pinheiro, tendo recebido a Comenda da Águia Vermelha do Império alemão (Roter Adlerorden), o que demonstrou o apreço alemão pelo trabalho diplomático português realizado.
Foi a caminho de Marrocos (Tânger), para tratar da sua situação política, em 27 de março de 1905, que Guilherme II visitou por uns dias Lisboa e Sintra. Este acontecimento foi muito relatado na imprensa portuguesa.

A Ilustração Portuguesa, no número 74, de abril de 1905, elege para capa da revista o retrato de Vicente Pinheiro, com as condecorações recebidas e onde é traçada uma nota biográfica destacando todos os cargos que ocupou com distinção até à época e elogiando o seu trabalho diplomático. Este número é dedicado exclusivamente a esta visita de Guilherme II a Portugal, em que Vicente Pinheiro teve um papel crucial, onde se podem observar inúmeras fotografias deste acontecimento, desde o desembarque no Terreiro do Paço, aos salões do Palácio das Necessidades, ao jantar na Sociedade de Geografia de Lisboa, à visita a Sintra e ao Palácio e fotografias da população pelas das ruas de Lisboa.

A nível mundial, a tensão política era muito forte, de 1905 a 1914 a iminente guerra esteve sempre patente nas relações diplomáticas. Nas relações entre Portugal e Alemanha sustentava-se a uma singular deferência entre o kaiser e o rei de Portugal. Nos discursos proferidos por Guilherme II nas diferentes reuniões a que presidiu, demonstrou simpatia pela nação portuguesa, já patente na escolha de Portugal, como país para realizar a visita oficial. A população portuguesa interpretou a vinda do kaiser como uma forma de demonstrar apreço pela Alemanha, apesar de sermos aliados de Inglaterra. Esta visita para a Casa Real portuguesa reafirma este sentimento de respeito e de simpatia pelo trabalho de Guilherme II.

Retrato de grupo durante o almoço oferecido ao Imperador Guilherme II no Paço de Sintra. Fonte A Illustração Portugueza, Ano 2, nº 74 (3 abril 1905).
A Queda da Monarquia em 1910
Três anos após esta visita, na sequência do regicídio de D. Carlos em 1908, e da revolução de 5 de outubro de 1910, a República acabou por ser instaurada. D. Manuel II foi o último rei de Portugal e Teófilo Braga o primeiro chefe de Estado republicano, na qualidade de presidente do Governo provisório (1910-11). Manuel de Arriaga foi o primeiro presidente eleito da República Portuguesa.
Vicente Pinheiro anunciou a sua renúncia ao cargo que ocupava, apesar da insistência para se manter em funções, da parte do Ministro de Negócios Estrangeiros do Governo Provisório, da Primeira República, Bernardino Machado.
“Meu Caro Bernardino: Respondo ao teu amável cartão, recebido ontem,
em que insistes para que fique servindo o Ministério. Quando se chega à posição
a que cheguei, num regime qualquer, o dever é desaparecer com ele. Quando por
um conjunto de circunstâncias e de tradição se serviu um Rei e de perto se tratou
com o Rei, morre-se realista. (…) Conheces-me desde rapaz. Fomos amigos e
choro ainda hoje o teu irmão António. Deves saber que fui sempre liberal e
aristocrata. Quero morrer o que nasci e o que me fiz. Admito apenas uma hipótese
em que possa sem Rei voltar a servir a Pátria: a sua invasão pelo estrangeiro. Teu
velho amigo, Vicente”.
Fonte: O Dia / dir. António Enes, Adrião Seixas, (14 maio 1922). Lisboa.
Vicente Pinheiro regressa de Berlim para a sua Casa de Pindela, em Santiago da Cruz, Vila Nova de Famalicão, onde ficará até à sua morte a 14 de abril de 1922.
