
As Ilhas de S. Tomé e Príncipe
Após o período de vida universitária em Coimbra, Vicente Pinheiro, com aprovação do grau de bacharel em Direito, inicia em 1879 a sua vida profissional na administração colonial portuguesa, tendo sido governador de S. Tomé e Príncipe de 3 de janeiro de 1880 até se demitir do cargo a 30 de dezembro 1881.

Durante os dois anos de governação das ilhas africanas Vicente Pinheiro deparou-se com algumas transformações sociais e económicas.
A província de S. Tomé, a partir de 1880 viveu uma viragem na abordagem sobre a migração de europeus, iniciou um novo ciclo na agricultura com a plantação do cacau e o nascimento de grandes propriedades. Até à década de 1880, a maioria da população europeia era composta por degredados, mas no início dessa década compreendeu-se que era uma fonte de problemas que impedia uma colonização europeia. Assim, facultou-se a vinda de europeus, que se estabeleciam como pequenos e médios proprietários, desenvolvendo a agricultura de exportação, trocando as plantações do café pelo cacau. Mas ainda durante esta década, o Estado apropriou-se das terras e reduziram-se as hipóteses de instalação de europeus como colonizadores. Do ponto de vista económico, o tecido comercial era muito reduzido limitando-se ao mercado interno entre ilhéus e roceiros.
O Governo da Província de S. Tomé e Príncipe
Vicente Pinheiro enquanto governador apresentou o Relatório do governador da provincia de S. Thomé e Principe: 1880, documento oficial entregue ao Ministro da Marinha e Ultramar, que após o regresso ao continente, refundiu, aumentou e completou e finalmente publicou As Ilhas de S. Tomé e Príncipe (1884).

Esta obra relata as atividades da sua administração no governo das ilhas. A dedicatória desta obra é feita ao 3º Marquês de Sabugosa, António Maria José de Melo Silva César e Menezes, então Ministro da Marinha e Ultramar, entre 1 de junho de 1879 e 17 junho de 1880, a quem consigna gratidão pela nomeação inédita de que foi alvo, pois não era habitual a nomeação para cargos governativos de individualidades que não fossem militares. Este Ministro desenvolveu uma ação reformista na estrutura e no funcionamento da administração colonial portuguesa.
O relatório do governador Vicente Pinheiro, depois publicado, relata pormenorizadamente, ao longo de mais de 500 páginas, os aspetos sociais e económicos das ilhas, nomeadamente a situação dos colonos, as fazendas, a instrução, as receitas, as obras públicas e no sexto capítulo as questões da administração política e judicial, dando recomendações e instruções para o reino.

Existem outros documentos relacionados com a estada de Vicente Pinheiro na colónia, nomeadamente Lugares selectos da biblioteca colonial portuguesa : as ilhas de S. Tomé e Príncipe – 1884 (notas de uma administração colonial): os colonos, Os frutos da terra e S. Tomé na segunda metade do século XIX.
Todas estas obras encontram-se no Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe. São pequenos apontamentos e notas sobre a cultura e vida das ilhas.
Durante esta permanência nas ilhas, a 5 de agosto de 1880, foi agraciado com a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, no grau de comendador.
